Pogo The Clown e a história assustadora de John Wayne Gacy

Renata Schmidt
8 min readJan 4, 2020

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Tema sugerido pela linda da Maria Silvia Spadoni @masilspadoni

John Wayne Gacy encarnando o palhaço Pogo. Fonte: //listverse.com/

A figura do Killer Clown é bastante popular na cutura pop — do IT de Stephen King a bandas como Insane Clown Pose, Pennywise e Slipknot, passando pr shows como American Horror Story, não tem muito como fugir de um ou outro palhaço demoníaco em sua vida. Se você, como eu, tem um certo pavor de palhaços e adoraria que eles aparececem menos no Halloween e nas esquinas da Avenida Paulista, fique sabendo que John Wayne Gacy é a razão pela qual o palhaço do mal foi o grande hit do horror dos anos 70/80. Bom, melhor começar a contar do começo.

John Wayne Gacy nasceu em Cook County, Illinois, em 17 de março de 1942. Sua mãe era dinamarquesa, e não se sabe muito dela além do fato de que apanhava constantemente do marido polonês, homofóbico e alcoólatra. Sua proximidade com a mãe e o fato de gostar de ajudá-la na cozinha e no jardim faziam dele o alvo favorito da violência paterna, e uma de suas irmãs chegou a comentar que John aprendeu a ‘segurar o choro’ desde bem criança. Muito provavelmente foi esse relacionamento doentio que plantou a semente dos sentimentos de amor e ódio que John Wayne Gacy viria a nutrir por outros homens pelo resto de sua vida, mas ainda é um pouco cedo pra chegarmos nesse tópico.

O jovem John Wayne Gacy. Fonte: Thoughtcatalog.com

Ainda criança, foi abusado sexualmente por um dos colegas do pai, fato que escondeu de todo mundo por décadas, temendo ser considerado homossexual pelo pai. Para completar o background destruidor de sua infância, John sofreu um acidente que culminou com uma pancada na cabeça quando tinha 11 anos, ficando com um coágulo que foi descoberto apenas 5 anos depois — inúmeros estudos apontam uma correlação entre pancadas na cabeça e o surgimento de comportamento perverso ou psicótico, principalmente se este ocorre durante a infância e a adolescência — segundo o estudo Psychotic disorder following traumatic brain injury: a conceptual framework, publicado pelo departamento de neuropsicologia do Hawaii State Hospital em 2002:

Uma lesão traumática no cérebro pode ser a principal causa de psicose ou contribuir para o surgimento de uma psicose através de distúrbio convulsivo secundário, aumentando os riscos biológico e psicológico de causar psicose em pacientes vulneráveis

Os aficcionados por true crime sabem da lista gigantesca de serial killers que correspondem à fórmula infância traumática + pancada na cabeça + violência sexual = violência contra animais já na infância e adolescência + timidez + comportamento sexual anormal + assassinato. Vale ressaltar, entretanto, que a mente humana não é uma receita de bolo, e que muitas pessoas passaram por coisas piores e não acabaram matando deus e o mundo por aí. Mas já me desviei demais do tema, bora voltar pro Gacy.

John Wayne Gacy finalmente atinge a maioridade e se muda pra Las Vegas, onde arruma trabalho em um necrotério. Por ser bastante pobre, ele acabava dormindo por lá mesmo alguns dias na semana, e em determinada ocasião acabou ficando no lugar sozinho com o cadáver de um adolescente. Pois é. John abusou sexualmente do cadáver e acabou decidindo não voltar para o emprego. Aos 22 anos mudou para Springfield, onde se casou com Carole Hoff. Pouco tempo depois, mudou com a família para Waterloo, Iowa, onde gerenciou 3 franquias do KFC, emprego que conseguiu com a ajuda do sogro rico — de alguma forma Gacy conseguia esconder seu lado sombrio sob um verniz de carisma e ‘all american man-ish’: ele se tornou relativamente bem-sucedido profissionalmente, teve duas filhas e chegou a receber um pedido choroso de desculpas do pai, que afirmou estar errado sobre a homossexualidade do filho.

Gacy e Carole Hoff. Fonte: rebelcircus.com

Nada disso foi suficiente para conter os apetites de Gacy. Ele acabou criando um bar em seu porão, para o qual convidava seus empregados, (a maioria meninos adolescentes que viam o convite como uma oportunidade de tomar cerveja sem precisarem ser maiores de 21 anos) os embebedava e molestava sexualmente. Um deles acabou contando o que aconteceu aos seus pais, que o denunciaram. John Wayne Gacy foi condenado a 10 anos de cadeia, dos quais cumpriu apenas 18 mesese foi liberado por bom comportamento — vamos falar sobre o privilégio do homem branco hétero cis nos Estados Unidos dos anos 70? Enfim…Carole Hoff teve o bom senso de se divorciar dele depois disso, levando as filhas para viverem numa cidade em que ninguém conhecesse a fama de seu pai molestador de meninos.

Ao ser solto ele volta a Illinois, pega um empréstimo com a mãe e compra uma casa, ao mesmo tempo em que faz bicos em restaurantes para pagar as próprias despesas. Algum tempo depois ele começa o próprio negócio de construção civil. Tudo indicaria se tratar de um caso de um ex-condenado com um passado disfuncional que está tentando colocar a vida nos eixos, não fosse o fato de que em momento algum Gacy parou de molestar adolescentes sexualmente — Um deles chegou a fazer uma denúncia, mas ela foi retirada quando a vítima não apareceu no tribunal; outro recebeu um pagamento generoso para não ir à polícia e um terceiro, que era seu funcionário, chegou a aparecer em sua casa e lhe dar uma surra.

Obviamente os rumores começaram a surgir, e para tentar melhorar sua imagem ele se uniu aos Jelly Jokers, grupo beneficiente de empresários que se vestiam de palhaços para animar crianças em hospitais, orfanatos e outros eventos destinados à caridade. Surgiu assim Pogo The Clown, o palhaço que Gacy incorporava quando animava festas infantis. Eu realmente não consigo entender quem ficava animado olhando pra esse cidadão aí embaixo, mas quem sou eu pra julgar.

Fonte: mirror.com

Coincidência, inspiração palhacística ou sorte, é a partir daí que a persona social de John Wayne Gacy começa a florescer — ele se tornou tesoureiro do partido democrata de Cook County, líder da defesa civil da cidade e chegou a ser nomeado homem do ano de Cook County em 1978.

John Wayne Gacy em foto com a primeira dama dos Estados Unidos, Linda Carter, em agosto de 1978, Fonte: toughcatalog.com

Os Assassinatos

Em 1972 Gacy fez sua primeira vítima fatal, um jovem funcionário que ele esfaqueou até a morte e escondeu no vão entre o chão da casa e a terra. Foi a única pessoa morta a facadas.

Depois disso, ele desenvolveu um modus operandi bastante consistente: atrair homens adolescentes ou jovens adultos para a sua casa com uma promessa de trabalho em sua construtora, bebida e/ou drogas. Já em casa, ele encontrava uma forma de levar a conversa para seu hobbie de palhaço, e se oferecia para mostrar o truque das algemas. A pessoa normalmente aceitava, ou por querer agradar o futuro chefe ou por estar bem louca, e rolava a seguinte conversa:

Pobre coitado algemado: tá, e agora? Qual o truque?

John Wayne Gacy: o truque é que pra sair dessa você precisa ter a chave.

A vítima era, a seguir, impedida de gritar ao ter suas próprias roupas íntimas enfiadas em sua garganta, violentada, torturada por um período de tempo que variava entre 3 e 6 horas, morta e escondida no chão da casa. Por vezes, em vez do truque das algemas era usado o truque da corda, no qual uma corda era posta no pescoço da pobre alma e o truque era basicamente era ser sufocada até perder a consciência. Houve ocasiões em que Gacy se fingiu de policial com direito a distintivo e sirene, tendo matado os jovens dentro de seu carro em um lugar isolado.

Em determinado momento não havia mais espaço embaixo da casa de John Wayne Gacy para abrigar os corpos, e ele começou a se livrar deles os atirando em um rio nas proximidades. O caso começou a atrair atenção policial quando Robert Piest, de apenas 15 anos, desapareceu pouco antes do Natal, ao sair para uma entrevista de emprego na sua construtora. Sua mãe reportou esse fato à polícia junto com o nome de Gacy, e os detetives puderam relacionar esse caso com vários outros desaparecimentos na região, todos com o mesmo perfil de vítima e contextos similares.

Pogo The Clown zombou da atenção que recebeu da polícia, chegando a competir corridas com viaturas quando foi posto sob vigilância. Foi nessa fase que ele soltou a famosa frase “até um palhaço consegue escapar da polícia de Illinois”. O humor acabou quando, em uma das visitas que os detetives fizeram à sua casa, um deles pediu para usar o banheiro e sentiu literalmente o cheiro da morte liberado pelo sistema de ventilação. Isso foi suficiente para garantir à polícia um mandato de busca, que os levou diretamente ao cemitério clandestino embaixo da casa. Ele foi preso em 21 de dezembro de 1978, e não consigo parar de pensar na vergonha alheia que Linda Carter deve ter sentido quando descobriu que posou pra foto com um serial killer.

Até hoje não se sabe ao certo o número exato de vítimas de Pogo The Clown — ele foi julgado e condenado à morte pelos assassinatos de 33 homens, mas estima-se que o montante possa chegar a 45 ou 47 mortes.

A vida de Gacy na cadeia rende um capítulo à parte: nos 14 anos em que ficou no corredor da morte, ele ficou famoso por não ser tímido ao relatar seus crimes à imprensa- sua história de vida rendeu inúmeras biografias, documentários e longas. Além disso, ele começou a pintar quadros perturbadores de palhaços na cadeia — um dos quais chegou a ser vendido por 20 mil dólares.

Um dos quadros bizarros pintados por Gacy na cadeia. Fonte: the 13thfloor.tv

No dia de sua execução, Gacy pediu um balde de frango frito do KFC, doze camarões fritos, morangos e uma Coca Diet. Suas últimas palavras foram:

Kiss My Ass

Na entrada da penitenciária, dezenas de pessoas celebravam com camisetas que continham os dizeres: “sem lágrimas para o palhaço”.

Para Saber Mais:

Fontes:

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